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"Vida longa aos dias de sol!"

sexta-feira, 20 de maio de 2011

PENA QUE TUDO DEU CERTO



Nascemos em uma caixa definida pelo tempo e espaço. Cabe a nós libertarmo-nos e descobrir nossos próprios caminhos.

A vida nos oferece muitas escolhas ao longo de nossa existência, menos a decisão de onde e quando iremos nascer. Obra do acaso, Deus ou qualquer outra explicação que cada um possa ter, a caixa onde nascemos influencia nossa formação e talvez, na maioria das vezes, determina nosso destino.
Nascer na periferia de uma grande cidade do terceiro mundo, fruto de uma família desestruturada, de maneira geral, produz repetições do modelo vivido. Fácil imaginar o marginal desajustado ou qualquer outro perfil não qualificado, amplamente explicado pelas teorias sociológicas.
Mesmo no caso inverso, onde o filho produzido neste mesmo ambiente, segue o caminho oposto ao esperado, tornando-se a antítese da realidade vivida, exemplo do homem sério e responsável, comemorado como prêmio do destino ou fruto de uma personalidade diferenciada, parece simplesmente a outra face da mesma moeda.
O privilegio do nascimento em uma família oposta a primeira, sob um olhar apressado, parece gerador de uma vida liberta. No entanto, a realidade também produz modelos aparentemente predeterminados. É fácil imaginar o filho esperado e também o ovelha negra negativo do primeiro.
Nos dois exemplos, os frutos parecem simplesmente limitados à repetição ou a negação de um modelo vivido originalmente. A caixa predetermina seus caminhos futuros.
Quando as experiências acima produzem comportamentos ditos negativos, ou por repetição do modelo deficitário original ou o como negação do contrário, a sociedade é rápida em explicar ou condenar o rebelde sem causa.
Mais complexa é a face positiva, normalmente aceita e até incentivada. Neste caso, o indivíduo aprisionado à caixa, fica adormecido e motivado a manter-se imóvel.
Tudo segue conforme o determinado, até que os fatos da vida apresentem àquele exemplo admirado, a decepção da perda, luto ou qualquer experiência de derrota, que desafia e normalmente desmonta o modelo aparentemente equilibrado e vencedor.
Escancarada a fragilidade do originalmente dito completo, a estrutura é questionada e por diversas vezes desaba por inteiro. O indivíduo tem finalmente a oportunidade de olhar-se no espelho e buscar seu eu, descolado do produto previsível e forjado pela experiência vivida.
Quanto mais sofrido melhor, a angustia da derrota longa e profunda dificulta o retorno ao modelo anterior, tranqüilo e acolhedor, dentro da caixa aprisionadora.
A derrota obriga ao derrotado a buscar alternativas, primeiramente seguindo o modelo original e depois, idealmente após sucessivas experiências de fracasso, obrigado finalmente a buscar novos caminhos.
Desprovido do modelo original, ao indivíduo só restam novas escolhas, mas para isso, antes necessita olhar-se e separar-se do que não é seu, mas espelho do outro, positivo ou negativo, tanto faz.
Caminhar nesta direção é uma experiência única e libertadora. O renascimento, como o original, é sofrido e angustiante, mas oferece oportunidades infinitas.
Infeliz daquele que a vida não desafiou e o manteve adormecido em um modelo de sucesso. Maldito sucesso, que quando pleno, ratifica "escolhas" previsíveis e imobiliza camadas impostas por terceiros. Neste caso, o eu verdadeiro pode permanecer adormecido por toda uma vida, sem libertar-se da caixa definida pelo tempo e espaço do seu surgimento, cabe então apenas lamentar por tudo que deu certo.

(Marcos Paim C. Fonteles, psicanalista)