Quem sou eu?

Seja bem-vindo!

Neste espaço você poderá conhecer algumas das minhas reflexões, que espero, possam de alguma forma estimular seu pensamento e divertir.

"Vida longa aos dias de sol!"

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A FALTA EM UM MUNDO COMPLETO


O mundo contemporâneo oferece quase todas facilidades possíveis ao homem urbano classe média alta. Quase todas as perguntas possuem resposta, a maioria ao alcance de um clique. Comunidades virtuais nos trazem de volta amigos há décadas esquecidos. Perder-se é praticamente impossível, quando satélites nos indicam exatamente o caminho a seguir. Fala-se de qualquer lugar para qualquer lugar a qualquer tempo, tudo na palma de uma das mãos. Viaja-se da China ao Paquistão sem levantar-se da cadeira. Tudo rápido, ao mesmo tempo e agora. Como poderá então, o homem neste mundo completo, reconhecer e valorizar a falta, o vazio, ou será que finalmente o produto homem foi acabado e está pronto para entrega?

A psicanalista Radmila Zygorius, radicada em Paris na França, em palestra recente disse que vários dos seus clientes a procuram, com uma ordem expressa: não querem análise, precisam simplesmente resolver uma questão pendente, com no máximo uma terapia breve. Pessoas procurando as descobertas da psicanálise, através do processo normalmente longo e laborioso da análise são cada vez mais raras. Ninguém tem tempo há perder, a maioria dos problemas já estão resolvidos. O sistema agradece. Planos de saúde e burocratas governamentais, preocupados com seus orçamentos cada vez mais apertados, corroboram e aplaudem soluções mais econômicas.

Por que o esforço de conhecer ou desvendar os mistérios do seu inconsciente quando ao final, retiradas todas camadas, sobra simplesmente o vazio, o nada?

Ela afirmou ainda, que boa parte dos problemas levantados, originam-se dos "males da vida", luto, abandono, traição, etc. Questões quaisquer do dia-a-dia, que segundo sua experiência, há décadas atrás, normalmente se resolviam por um ombro amigo ou familiar, não no divã psicanalítico. Pergunta-se: para onde se foram os amigos? Como não se ter com quem conversar na era das agendas de telefones, repletas, com centenas de nomes à disposição?

Um século depois da psicanálise o homem parece resolvido. A moral inquestionável já não assusta nem criancinhas. A sexualidade é livre, o mundo aceita e valoriza diferenças. O politicamente correto direciona ações. A liberdade é valorizada, esportes, saúde, qualidade de vida, enfim, seus problemas acabaram!

As neuroses não existem mais? Não parece. Uma rápida olhada nos jornais virtuais ou não, nos apresentam os velhos sintomas. Violência, drogas, depressão, suicídios e todos males tradicionais da sociedade humana.

Mas qual será o caminho? Como reconhecer que nem todas perguntas podem ser respondidas pelo Google?

O homem não existe sem o outro. O bebê humano morre sem assistência. O ser único forma-se através dele mesmo e do outro. São necessários pelo menos dois para se fazer um, mas o homem multitarefa não se satisfaz com pouco. Por que se contentar com um, em tempos que podemos ter milhares?

Distraído por muitos posso ficar mais longe de quem mais me assusta. Eu mesmo.

(Marcos Paim C. Fonteles, psicanalista)